segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Zezé Moreira: Fofocas prejudicam Canarinha


ZEZÉ MOREIRA: FOFOCAS PREJUDICAM CANARINHA

Rio (Sport Press, especial para o Diario da Noite) – Zezé Moreira revela que no Uruguai há um ambiente de maior confiança e otimismo em relação ao futebol brasileiro do que entre nós. “Lá não só acreditam que o Brasil superará a fase das eliminatórias, como, em 70, será uma das grandes forças da Copa do Mundo, no Méxixo”.
Uma das virtudes de Zezé Moreira é a franqueza. Por isso evita falar sobre assuntos em que suas palavras possam ter um sentido duvidoso ou interpretações que possam provocar contrariedades. Concordou, todavia,em abordar o assunto seleção, de forma genérica, sem personalizar.

Resultados muito bons

“Sei que os resultados alcançados pela seleção brasileira na sua campanha de 68 não agradaram à maioria, que preferia ver a seleção regressar invicta das partidas que disputou na última excursão e manter-se igualmente invicta nos compromissos cumpridos no Brasil. Para mim, no entanto, os resultados foram muito bons, sobretudo porque o objetivo da excursão não era o de somar pontos em termos de vitória, mas sim o de observar e estudar. A excursão e os jogos no Brasil deram oportunidades excelentes ao técnico e à Cosena para tirar conclusões no campo experimental daquelas programadas”.

Contingências do momento

Logicamente Zezé não aprova a formação de uma seleção dois dias antes de um compromisso internacional. Mas tem fundamentos para aceitar sem condenar algumas decisões da CBD com relação ao selecionado.
“A imprensa e o público não entendem certas coisas, como por exemplo, a de a CBD ter que recorrer ao expediente da seleção de urgência, isto é, convocar os jogadores com uma antecedência de dois dias dos seus compromissos. Nessa história toda, a CBD entra de responsável sozinha, quando na verdade, ela procura harmonizar uma série de interesses, respeitando os dos clubes, que não podem prescindir de suas melhores estrelas, sem que sofram consequências pesadas. O Botafogo, quando da excursão do selecionado, ficou sem quatro ou cinco jogadores, e sem eles, não pode excursionar e ganhar bom dinheiro. Como o Botafogo, outras equipes sofreram os mesmos prejuízos. Para evitar o colapso, a CBD encurta o período de permanência dos jogadores sob o seu domínio, e joga praticamente sem treinamento. Foram medidas que devem ser aceitas como contigências do momento”.

Agora será diferente

“Justificfa-se, portanto, a pressa como foi organizada a seleção para os jogos no Brasil e na excursão. Foram jogos de responsabilidade, porque repercussão internacional, mas, convenhamos, foram muito mais de estudo, ou só de estudo que de competição. Para as eliminatórias, a CBD certamente disporá do tempo necessário para armar como deseja a seleção nacional e, no meu entender, serão necessários, no mínimo, 60 dias de atividade do escrete, para que ele entre nas eliminatórias habilitado a superá-las”.

O grande mal

Na opinião de Zezé Moreira, o mal maior do futebol brasileiro são as brigas, as incompreensões, o disse-me-disse, a vontade de derrubar”.
“Não é só meu pensamento, mas pude verificar que julga o torcedor uruguaio, que respeita muito o futebol brasileiro e acha mesmo que poderá passar das eliminatórias e chegar ao campo da Copa, em 70, como grande concorrente ao título. Mas, antes, precisa eliminar do seu meio as brigas internas. Acompanhei com interesse todos os acontecimentos que envolviam o futebol brasileiro. Tanto pelo rádio como pelos jornais, eu ficava sabendo do seguinte, através de manchetes iguais a estas: Sai Brandão; Fica Aimoré; Entra Zagalo; Brandão fica; Sai Aimoré. Tudo isto só causava mal-estar e me fazia lembrar o exemplo grego, quando Esparta e Atenas brigavam entre si e não se apercebiam da Macedônia que, na briga daquelas duas cidades encontrou o campo propício para a guerra e a vitória sobre ambas. Enquanto fizermos esse jogo, os europeus se deliciarão, poie é o que eles desejam. Enquanto nós ficamos brigando por motivos fúteis, os nossos adversários vão levando vantagem”.

A melhor tática

Passamos a abordar a questão das táticas e Zezé diz:
“A melhor tática é aquela em que o jogador melhor se enquadra. Na minha maneira de atuar foi sempre a mesma e no Uruguai fiz o mesmo. O meu time, o Nacional, terminou em segundo lugar no Campeonato, com uma equipe totalmente remoçada, mas com amplas possibilidades de reconquistar o título em 1969”.
"Para o caso especial do Brasil, o ideal tático seria a fórmula de atacar com todos e defender com todos, mas isso só seria possível após longo período de treinamento, e a seleção brasileira ainda não pode dispor desse tempo".
Zezé é partidário da eliminação do especialista dentro do campo, para efeito de colocar o Brasil atualizado com a evolução do futebol.
"É muito válida a mentalidade dos que assim argumentam, mas para isso são necessárias duas coisas: muito treinamento e interesse dos jogadores em acertar e colaborar".

Não foi convidado

Quando se falou na reformulação da Cosena, o nome de Zezé Moreira andou sendo citadocomo um dos possíveis ocupantes do comando da seleção.
"É o que disse há pouco. Cai Brandão, fica o Aimoré, fica o Brandão e Aimoré, sobe Zagalo, cai Zagalo, Tim é o novo homem. Nessa avalancha, admito que já tenha o meu nome derrubado alguém; e mesmo alguém, derrubado meu nome. Mas sob palavra de honra, não fui convidado para coisa nenhuma".
Quando levantamos a hipótese, perguntamos se aceitaria ou não. Zezé foi taxativo:
"Não sou de decidir sobre hipóteses. Poderia cair no ridículo.Se um dia o assunto for abordado oficialmente, será merecedor de estudo. Por ora, nada posso antecipar. Mas nada mesmo".

Pelé representa meio título

Pedimos a Zezé sua opinião à respeito do rendimento de Pelé na seleção:
"Pelo que vi na partida contra os iugoslavos, Pelé ainda é o grande jogador de sempre. Apenas, como os outros, revelou saturação de bola, sem deixar de ser o craque brilhante com uma atuação de noite de rei. Gostaria de tê-lo na equipe que dirijo, pois o Nacional já entraria no campeonato com meio título na mão. No sistema de "todos defendem e todos atacam", Pelé é figura de frente e que poderá, muito bem, cumprir um papel de destaque, tanto jogando com a bola quanto sem ela. Ele é figura obrigatória em 70".

Mané e o peso da idade

Já em relação a mané Garrincha, Zezé pensa de forma diferente:
"Em que pese a grande força de vontade de Garrincha, na sua luta pela recuperação total, em 70 ele já estará com 35 anos e o Brasil enfrentará seleções que fazem do preparo físico a sua principal arma. O máximo que Garrincha poderá render é a metade do seu antigo máximo, não por vontade dele, mas pelo peso dos anos, o que não será suficiente para romper defesas duras. Acredito muito em Garrincha, porém ele na plenitude de sua forma física e técnica. Como falta muito tempo é possível que muita coisa de bom possa acontecer".

Fonte: Diario da Noite, Recife, 07/01/1969

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