terça-feira, 20 de setembro de 2016

O primeiro jogo da seleção brasileira masculina de futebol


O PRIMEIRO JOGO DA SELEÇÃO BRASILEIRA MASCULINA DE FUTEBOL

Clóvis Campêlo

O primeiro jogo da seleção brasileira de futebol aconteceu no dia 21 de julho de 1914, no antigo estádio do Fluminense, no bairro das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, contra o Exeter City, equipe profissional da Terceira Divisão da Liga Inglesa.
O time brasileiro, na verdade um combinado formado por jogadores do Rio e de São Paulo, venceu por 2x0, gols marcados por Oswaldo Gomes e Osman Medeiros. Oswaldo Gomes, por sinal, viria a ser presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), em 1921.
Consta que quando o time britânico desembarcou no Rio de Janeiro corria o boato de que os seus jogadores podiam correr com a bola dominada por todo o gramado sem que ninguém a conseguisse tomar. Além disso, os seus chutes eram tão potentes que costumavam furar as redes adversárias e destroçar as traves que se atrevessem a ficar no itinerário da bola.
Desse modo, não é de estranhar que tenham sido recebidos com admiração e espanto pela torcida presente ao estádio do Fluminense. Os ingleses, gigantescos, fortes e musculosos como lutadores de boxe, entraram em campo, deram uma volta pela orla do gramado e caminharam altivamente até a parte reservada aos sócios do Fluminense, onde cumprimentaram a torcida, composta por rapazes com chapéus de palhinha, senhoras de sombrinhas estampadas e mocinhas de roupas coloridas. Em seguida, ficaram batendo bola em uma das barras.
Logo após entraram os brasileiros, franzinos, tímidos e encabulados ante a torcida feminina que lhes atirava flores, fitas e papéis coloridos.
Por último, também muito aplaudido, entrou em campo mister Harry Robinson, inglês radicado no Brasil, designado para apitar o jogo.
O que de início foi um jogo limpo e disputado com lealdade, transformou-se na medida em que os brasileiros passaram a dominar a partida, com um jogo rápido e rasteiro. Os ingleses passaram a apelar para o jogo de corpo e a violência. Após a marcação dos dois gols brasileiros, os súditos de Sua Majestade chegaram a simular contusões com o intuito de encerrar a partida e evitar uma goleada maior. Convencidos por Mr. Robinson, voltaram a campo para terminar a partida, distribuindo pontapés a torto e a direito. Consta que em um lance disputado a margem do gramado, o atacante Friedenreich perdeu dois dentes por conta de uma botinada recebida do seu gigantesco marcador.
A seleção pioneira venceu o seu primeiro jogo com Marcos, Píndaro e Nery; Sylvio Lagreca; Rubens Salles e Rolando; Abelardo, Oswaldo Gomes, Friendenreich, Osman Medeiros e Formiga. Técnicos: Rubens Salles e Sylvio Lagreca.
Os ingleses perderam com Pym, Forte e Strettle; Rigby, Largan e Smith; Whitaker, Pratt, Hunter, Lovett e Goodwin.

FONTES:
- CASTRO, Marcos de e MÁXIMO, João. Gigantes do Futebol Brasileiro. Rio de Janeiro: Editora Lidador, novembro de 1965, p. 20-22.
- Placar nº 1097. São Paulo: Editora Abril, outubro de 1994, p. 70.
- Placar Edição Especial, 1.000 jogos da Seleção. São Paulo: Editora Abril, fevereiro de 2000, p. 6 e 10.


A empresa morreu!


A EMPRESA MORREU!

José Carlos Cavalcanti

A empresa tradicional, tal como passamos a conhecer mais em detalhes a partir do século 20, morreu e está sendo substituída pela nova empresa do século 21! Mas como chegamos a esta conclusão?
Há três estruturas fundamentais que governam a natureza de toda atividade econômica: consumidores, produtores e o modo como o valor é intercambiado entre elas. Desde a publicação do livro A Rique das Nações, de Adam Smith, em 1776, o principal tema da maioria dos economistas tinha sido que o planejamento centralizado não era necessário para fazer um sistema econômico funcionar bem. A necessária coordenação seria o resultado de mecanismos de preços e informação nos mercados.
Ronald Coase (1910-2013) foi um dos primeiros economistas que começou a questionar este pensamento principal em Economia. Ele percebeu (em 1937) que havia custos envolvidos em usar o mecanismo dos preços no mercado. As necessidades e as ofertas têm que encontrar uma às outras. Os preços tem que ser descobertos. Negociações precisam ser conduzidas. Contratos têm que ser feitos. Há disputas que mais cedo ou mai tarde terão que ser resolvidas. Adam Smith não viu isso. Ronald Coase chamou esses custos de custos da transação. Seu argumento era que uma empresa deveria emergir, existir e continuar a existir com sucesso, se ela desempenhasse seu planejamento, coordenação e funções de gestão a um custo menor do que seria incorrido por meio das transações de mercado. A existência de altos custos de transação fora das empresas levou à emergência da empresa como nós a conhecemos, e à administração como nós ainda temos. Mas o mundo mudou!
O que realmente importa agora é o lado reverso da argumentação de Coase. Se os custos (de transação) de intercambiar valor na sociedade como um todo caem drasticamente, como está acontecendo hoje, a forma e a lógica das entidades econômicas necessariamente precisam mudar! Logo, a empresa tradicional é hoje a alternativa econômica mais cara. Desta maneira, um diferente tipo de gestão é necessário quando a coordenação pode ser desempenhada sem intermediários e com a ajuda de novas tecnologias e modelos de negócios (como plataforma online).Esta é a principal diferença entre Uber e velhos serviços de táxis e uma série de atividades. Aplicativos podem agora fazer o que gestores faziam!

Fonte: Jornal do Commercio, Recife, 12/8/2016

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

A mais nova companheira


A MAIS NOVA COMPANHEIRA

Clóvis Campêlo


Conheci-a há alguns anos atrás e, de início, não imaginei o que ela pudesse me propiciar.
Achei apenas que seria mais uma companhia para essa vida da qual eu tenho certeza que já vivi mais da metade.
Essas coisas são assim, simplesmente acontecem, não mandam aviso, não sinalizam, não deixam que nos preparemos para recebê-las.
No entanto, não me fiz de rogado. Aceitei-a, não digo que com o coração completamente desarmado, mas com a serenidade necessária.
A primeira crise, porém, mostrou-me que a nossa convivência não seria necessariamente pacífica. Senti-me atingido e, o que é pior, privado de exercer algumas das coisas das quais mais gosto.
A crise passou e voltamos a conviver, ou melhor, coexistir pacificamente. Tive consciência, porém, de que alguns limites estavam definitivamente estabelecidos. Eu não mais seria o mesmo. Mesmo assim, a coisa não me pareceu tão trágica.
A crise seguinte aconteceria ao retornar de uma viagem a São Luís do Maranhão. Sabia que havia exagerado e extrapolado alguns dos limites durante a viagem. Mas, sabem como é: a gente viaja, fica longe do nosso habitat natural, perde algumas das referências diárias e termina saindo da linha. Não imaginava, porém, que a sua manifestação seria tão violenta. Confesso que assustei-me com o que tive de suportar. A partir daquela data, sabia que teria de tomar mais cuidados. Guardei tudo na memória. Precisava não mais me esquecer. Mas, como todos nós sabemos, a memória é pragmática e utilitária e precisa sempre reciclar os seus arquivos para puder acumular as informações que realmente são necessárias naquele momento vivido. E todo aquele conhecimento acumulado pela experiência do sofrimento saiu de cena. Mesmo assim, dois anos se passaram e nada aconteceu. Eu inocentemente com a guarda aberta e ela calada, quieta, como se nada tivesse a reclamar.
Domingo passado, amigos, inesperadamente para mim, a coisa estorou novamente. Nunca a vi tão violenta, descontrolada, raivosa, vingativa. Temi perder o controle da situação, coisa que nunca havia acontecido antes. Hoje, alguns dias depois, posso dizer que se situação ainda não se normalizou. Arrefeceu, porém. E estamos mais uma vez naquela fase de negociação, procurando estabelecer de maneira conveniente o espaço que cada um pode ocupar em paz. Confesso que desta vez passei a respeitá-la muito mais, tive a percepção exata da sua força. Não quero mais o confronto, juro. Quero viver em paz com ela. Deixo isso bem claro e evidente. Não dá para suportar a dor. Terrível. A partir de hoje, farei tudo o que ela disser. Agora eu sei quem é que dá as ordens. Não sou louco.
Rendo-me, portanto, à artrite gotosa.

Recife, 2009


A Garota Coralnet









A GAROTA CORALNET

Débora Oliveira foi a Garota Coralnet em janeiro de 2009, aos 20 anos.
Com 1,72 metros, 60 quilos, é natural do Recife e do signo de Gêmeos.
Mais uma vez, pedimos licença ao antigo site oficial do Santa Cruz para divulgarmos as imagens de uma torcedora capaz de encher os olhos de qualquer amante do futebol.
Dá-lhe, Débora!

Dá-lhe, Santinha!

domingo, 18 de setembro de 2016

Negra ninfa


NEGRA NINFA

Samuel da Costa

Para Bel Lopes

Quem dera ser
O vermelho manto
Que em um místico abraço
Enlaça o sacrossanto
O Corpo incorpóreo teu

Quem dera
Em um quimérico sonho
Eu possa assenhorar-se
Da morada dos deuses e deusas imortais
E ficar equidistante ao lado teu

Tomar o alaúde
A lira
Para se tornar o teu rapsodo
Para compor o Bel canto
Para a minha
Divinal Urânia encantada


Lacraia, o poeta do Santa Cruz


Lacraia, no destaque

LACRAIA, O POETA DO SANTA CRUZ

Leonardo Dantas Silva

Cabeleira negra e farta, pele morena escura, altura acima dos seus companheiros, Teófilo Batista de Carvalho logo se destacou, entre os meninos que em 1914 fundaram na Boa Vista o Santa Cruz, como o mais dotado dos rapazes, dentro e fora dos campos daquela época.
Filho de uma família de classe média do bairro da Boa Vista (seu pai era médico), acompanhou os meninos que se reuniam na calçada da Igreja da Santa Cruz nos primeiros momentos daquele início de século. Por motivos outros, não assinou a ata de fundação do seu clube, não se registrando a sua presença na reunião ocorrida na casa do despachante Adolpho Silva, situada no nº 5 da Rua da Mangueira (hoje, Leão Coroado), esquina com a Rua da Alegria, naquela noite de 3 de fevereiro de 1914.
Atendia pelo simpático apelido de Lacraia, ocupava a posição centromédio, logo se transformando em um dos mais renomados artilheiros e, ao mesmo tempo, em capitão e técnico daquele time de iniciantes, que comparecia aos jogos da campina do Derby envergando as cores preta e branca.
Foi o jogador mais popular de sua época, sendo dele o projeto do escudo do Santa Cruz, inspirado na “âncora branca da esperança”, trazendo as cores encarnado, preto e branco, cujo primeiro exemplar fora confeccionado nos Estados Unidos, por encomenda do livreiro Ramiro Costa, e que se mantém, em sua forma primitiva, até os nossos dias.
Segundo o blog do Santa Cruz, “a idéia do escudo nasceu numa ocasião em que um amigo do pai de Lacraia, o livreiro Ramiro Costa, proprietário da secular livraria, que levava seu nome, perguntou ao centromédio, se ele não estava interessado em mandar confeccionar alguns escudos em metal para o Santa Cruz.
Sentindo que o clube precisava de um distintivo que identificasse seus diretores e simpatizantes, não hesitou em responder favoravelmente. Ele mesmo elaborou o desenho, e a encomenda seguiu para os Estados Unidos, pois naquele tempo, tanto no Rio como em São Paulo não haveria facilidades para fazê-los. Pois, no Recife, nem se fala”.
Quando algum tempo depois, Lacraia foi informado da chegada dos escudos, a notícia estava acompanhada da conta, cinco contos de reis. Apenas para tomar o real como parâmetro, digamos, cinco mil reais. Àquela altura, o presidente era Álvaro Ramos Leal, mais tarde médico, pai do também médico e dirigente do clube em meados do século passado, Nilson Ramos Leal. Álvaro seria também avô do ponta-direita Carlinhos (Ramos Leal), de vitoriosa passagem pelo Santa – ainda defendeu o América e o Sport.
Quando foi cientificado do compromisso que teria que ser saldado com Ramiro Costa, Álvaro deixou seu companheiro assustado ao dizer que o assunto seria levado à apreciação da diretoria. Se esta não aprovasse, nada feito. Lacraia que pagasse do seu bolso, uma vez que o clube nada tinha encomendado.
Sem dinheiro para saldar um débito tão alto, o centromédio ficou apreensivo. Porém, para sua tranqüilidade, os demais diretores acharam lindos os escudos, que podiam ser usados no chapéu – um dos costumes da época – com os menores sendo presos à lapela e à gravata. E o Santa pagou a conta.
Mas o nosso Lacraia, com a sua simpatia peculiar, soube brilhar fora de campo, não só como projetista do escudo do Santa Cruz, que os tricolores daquela época usavam, com orgulho, nos chapéus, broches de gravata e lapela, muitos deles confeccionados em ouro cravejado com brilhantes, mas como autor dos versos que apresentavam os jogadores daqueles idos de 1914 a 1917.
Nas ruas a rapaziada já desfilava cantando, atraindo a presença do público feminino, depois de cada conquista no campo do Derby ou no campo do Tramways (na Avenida Malaquias).

Ai meu Deus, que barulho!
Quantas palmas, que horror!
Torcedoras estão contentes,
A vibrar com o tricolor!

Naqueles primeiros anos Teófilo Batista de Carvalho, o nosso Lacraia, descrevia em versos o perfil de cada um dos jogadores do tricolor:

Minha gente não se iluda
Nosso goal-kepper é Ilo Just
Seu apelido é Bicuda.
Atenção Bicuda! Olho na bola!
Cuidado, o inimigo atola!
E não sabeis por onde entrou.
Teu talismã foi perdido,
O teu dente foi partido,
De uma bola que levou

E seguia descrevendo cada um dos jogadores de então, terminando por ele próprio:

Do ingrato Americano
O lugar está ocupando
O rebolo do Tiano [Martiniano Fernandes]
Ai Tiano, center-ford ardiloso
Japonês perigoso,
O primeiro da posição
És um center de primeira
Faz o goal e quantos queira
Assim tenha ocasião

………………………………………….

Eis aqui o tricolor
Que acabo de descrever
Jogador por jogador
Ai que time,
Todos eles desdentados
Uns gorduchos outros cortados
Na metade da altura
Tem também uma Lacraia
Quem pisar em sua raia
A ferrada está segura

E assim o Santa Cruz, que tivera suas cores alvinegras no primeiro ano, transformando-se depois no tricolor com a inclusão do encarnado, passou a ser “o Clube das Multidões dos nossos dias…”
Confessa Givanildo Alves, em seu livro História do Futebol em Pernambuco (1978), que “o Santa continuou sendo amado por pretos e brancos, ricos e pobres, até os dias de hoje. O moreno quase negro Lacraia abrasileirou o futebol pernambucano, até então praticado somente pela elite recifense misturada aos galegos de olhos azuis das companhias inglesas aqui instaladas. O Santa Cruz pôs um ponto final no anglicismo futebolístico reinante e iniciou o estilo de jogo nacional da ginga de corpo, do banho-de-cuia, da bola de efeito, do gol de letra, do drible e da picardia. Um futebol enfim narcisista como o espírito brasileiro. Era a ruptura do velho e a instalação do novo”.


Mora na filosofia!


sábado, 17 de setembro de 2016

O Tratado de Ouro Fino


O TRATADO DE OURO FINO

O Tratado de Ouro Fino, celebrado em 1913 por Cincinato Braga, de São Paulo, com Júlio Bueno Brandão, de Minas Gerais, fixava a alternância de São Paulo e Minas Gerais no poder governamental, a famosa política do café com leite. Teve como objetivo diminuir a influência política do Rio Grande do Sul, representada por Pinheiro Machado.
Esse acordo, obviamente informal - ninguém colocaria uma coisa dessas no papel e mandaria registrar em cartório, cuidando para assegurar a publicação nos principais jornais do País - foi celebrado em 1913, na cidade mineira de Ouro Fino, daí ter ficado conhecido como "Pacto de Ouro Fino". Aprende-se também, quase sempre, que o "café-com-leite" chegou ao fim porque Washington Luís, o "paulista falsificado" , de acordo com a música de Eduardo Souto, rompeu o acordo feito com os mineiros, ao indicar Júlio Prestes, paulista de Itapetininga, como seu candidato à sucessão.
Acontece, leitor, que se analisarmos a lista de presidentes desde a proclamação da República, em 1889, até 1930, veremos que as coisas não são tão simples quanto parecem, ou pelo menos, não aconteceram exatamente como nos ensinaram. Observe:
Deodoro da Fonseca, alagoano, era militar de carreira;
Floriano Peixoto, também alagoano e militar de carreira;
Prudente de Morais , paulista de Itu, formado na turma de 1863 da Faculdade de Direito de São Paulo;
Campos Sales, paulista de Campinas, também da turma de 1863 da Faculdade de Direito de São Paulo;
Rodrigues Alves, paulista de Guaratinguetá, formou-se em Direito em São Paulo, na turma de 1870;
Afonso Pena, mineiro de Santa Bárbara, formou-se em Direito em São Paulo na turma de 1870;
Nilo Peçanha, nascido em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, concluiu o bacharelado em Direito na Faculdade de Direito do Recife;
Hermes da Fonseca, nascido em São Gabriel, Rio Grande do Sul, era sobrinho do Marechal Deodoro da Fonseca e, como ele, militar de carreira;
Wenceslau Braz, mineiro de Brazópolis, formou-se em Direito em São Paulo na turma de 1890, tendo sido presidente da República de 1914 a 1918, portanto o primeiro do "café-com-leite";
Rodrigues Alves, como já foi dito era paulista e, eleito presidente, morreu antes de assumir novamente a presidência;
Delfim Moreira, mineiro de Cristina, bacharelou-se em Direito em São Paulo na turma de 1890, sendo presidente de 1918 a 1919, já que era vice na chapa de Rodrigues Alves;
Epitácio Pessoa, paraibano de Umbuzeiro, formou-se em Direito em Recife na turma de 1886, sendo presidente de 1919 a 1922 (apoiado pelos políticos mineiros, foi uma rusga no "café-com-leite");
Artur Bernardes, mineiro de Viçosa, formou-se pela Faculdade Livre de Direito de Minas Gerais, sendo presidente de 1922 a 1926;
Washington Luís, nascido em Macaé, Rio de Janeiro, era, na política, considerado "paulista", tendo concluído o bacharelado em Direito em São Paulo na turma de 1891. Antes de ocupar a presidência da República foi prefeito da cidade de São Paulo e Governador do Estado de São Paulo. Presidente de 1926 a 1930, foi deposto pelo golpe conhecido como "Revolução de 30".
Júlio Prestes, paulista de Itapetininga, formado em Direito em São Paulo na turma de 1906, não chegou a assumir a presidência.
Constatamos que, de Prudente de Morais a Washington Luís, onze pessoas diferentes ocuparam a presidência da República. Dessas onze, dez eram civis e apenas um, o Marechal Hermes da Fonseca, era militar. Quanto ao Estado de origem, excetuando o caso "híbrido" de Washington Luís, verificamos que, dos dez presidentes civis, quatro vieram de Minas Gerais, três de São Paulo (aliás consecutivamente), um do Rio de Janeiro, um do Rio Grande do Sul e um da Paraíba. Porém, se analisarmos apenas o período de vigência do Pacto de Ouro Fino, faremos a espantosa constatação de que os presidentes, foram, por ordem, mineiro, mineiro, paraibano, e mineiro. As exceções, se assim podemos chamar, foram o reeleito Rodrigues Alves, que deveria ter assumido o mandato em 1918, mas que morreu, vítima da gripe espanhola, antes de tomar posse, e o já citado caso de Washington Luís, carioca de Macaé, que, no entanto, reconhecidamente fez sua carreira política em São Paulo, tendo sido prefeito e governador, antes de chegar à presidência da República.
Pergunto: onde está o "café-com-leite", com a suposta alternância de presidentes mineiros e paulistas? Os três únicos verdadeiramente paulistas que chegaram à presidência durante a República Velha (e não só) foram justamente os três primeiros civis, o que se explica facilmente pela relevância política do PRP (Partido Republicano Paulista), criado em 1873, primeiro e decisivo impulsionador do movimento republicano no País, e pela preponderância econômica que São Paulo exercia na época em decorrência de ser o grande centro produtor e exportador de café, produto do qual, em última instância, dependia a economia brasileira quase exclusivamente.
O que mais dizer? Se o "café-com-leite" nunca se consumou, o que haveria, ao menos, em comum, em relação a todos esses presidentes? Primeiro, eram todos do sexo masculino (você notou, leitor?) e além disso, excetuando-se os militares, eram todos formados em Direito. Verifica-se que, sendo todos advogados de profissão, sete obtiveram o Bacharelado em Direito em São Paulo, dois na Faculdade de Direito de Recife e um na Faculdade Livre de Minas Gerais. Por isso, se há alguma coisa que pode, nesse sentido, ser decisiva, é o fato de que a maioria dos presidentes estudou em São Paulo, na mesma instituição, o que talvez assinale uma tradição de pensamento e ação no campo da política. Os fatos, leitor, demonstram que qualquer outra coisa que nos tenham ensinado não passa de mistificação, e não História. Mas esse é apenas um, dentre muitos outros tópicos, sobre os quais se ensina o que nunca aconteceu.

Fontes: Wikipédia e História & Outras Histórias

Santuário de Nossa Senhora de Fátima no Recife





Fotografia de Clóvis Campêlo / julho 2016

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA NO RECIFE

Clóvis Campêlo

Quem passa pelo Beco dos Estudantes, que liga a Avenida Conde da Boa Vista à Avenida Oliveira Lima, no bairro da Boa Vista, no centro do Recife, tem a exata visão das fotografias acima, onde aparece a torre da capela do antigo Colégio Nóbrega.
Segundo a Arquidiocese de Olinda e Recife, no seu site, esse é o santuário arquidiocesano mais antigo do mundo, inaugurado no dia 8 de dezembro de 1935, sendo a primeira igreja do mundo dedicada a Nossa Senhora de Fátima. O projeto arquitetônico foi assinado pelo francês Georges Mounier. O prédio tem forma de cruz latina com 26 metros de altura e a torre de 56 metros. No interior, há uma imagem da Virgem do Rosário com três metros de altura.
Nomeado Arcebispo de Olinda e Recife no dia 1º de julho de 2009, Dom Fernando Saburido foi empossado no dia 16 de agosto de 2009, tornando-se o 8º Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife e o 32º bispo a ocupar o sólio olindense. Em 13 de maio de 2012, concedeu à capela o título de Santuário Arquidiocesano à igreja.
Segundo notícia publicada no site G1, da Golbo, em 12 de maio de 2012, "o santuário teve sua construção iniciada em 1933. A inauguração aconteceu em 8 de dezembro de 1935, com a ajuda da colônia portuguesa do Recife. O local, inicialmente, era chamado de Capela do Colégio Nóbrega. A obra foi projetada pelo arquiteto francês Georges Mounier e foi pensada para ter forma de cruz.
Na Igreja Nossa Senhora de Fátima, há ainda a estátua da Virgem do Rosário, que mede 3 metros de altura, feita pelo o artista português Antonio da Paz, e um ossuário, construído nos anos 1990, onde estão os restos mortais de 47 jesuítas. A igreja foi tombada pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado de Pernambuco (Fundarpe), em 2010. O título será concedido em meio à festa de Nossa Senhora de Fátima".

Recife, agosto de 2016

Dia Nacional da MPB


DIA NACIONAL DA MPB

Desde 2012, o dia 17 de outubro passou a ser o Dia Nacional da Música Popular Brasileira.
A data foi criada pela presidenta Dilma Rousseff e foi escolhida por ser o aniversário de nascimento da primeira compositora popular brasileira: Chiquinha Gonzaga. Ela nasceu em 1847 no Rio de Janeiro. É dela a música "Ó Abre Alas", que se tornou um hino do carnaval brasileiro.
Naquela época, as mulheres não tinham espaço na política ou na música, e Chiquinha Gonzaga, além de ser compositora e regente, participou das grandes causas sociais de seu tempo. Suas músicas misturavam vários ritmos, como o tango, o choro e a marcha e transitavam entre o erudito e o popular.

Fonte: Folha de São Paulo, São Paulo, 17/10/2013

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

O reencontro de Paul McCartney e Ringo Starr


O REENCONTRO DE PAUL McCARTNEY E RINGO STARR

A premiere do documentário The Beatles: eight days a week, ocorreu nesta quinta-feira (15) em Londres, e contou com a presença dos dois Beatles ainda vivos: Paul McCartney e Ringo Starr.
As duas lendas da música posaram para os fotógrafos e atenderam aos fãs. Além deles, o evento contou com a presença de Yoko Ono, a viúva de John Lennon, e da cantora Madonna.
Eight days a week é um documentário autorizado dos Beatles que retrata a primeira parte da carreira do quarteto. Dirigido por Ron Howard, o filme traz entrevistas com Paul McCartney e Ringo Starr, cobrindo o período em que a banda realizou uma turnê mundial, incitou a beatlemania e lançou discos memoráveis.
Este é o segundo documentário musical de Howard. O primeiro foi Made in america, lançado em 2013, sobre o festival de música criado por Jay Z. The Beatles: eight days a week tem lançamento mundial marcado para esta sexta-feira, 16.

Fonte: Diario de Pernambuco, Recife, 16/9/2016

A morte do maestro Nunes


A MORTE DO MAESTRO NUNES

Faleceu na manhã desta quarta-feira (14) o Maestro Nunes, aos 85 anos. "Hoje no céu a música é frevo.. Infelizmente meu pai partiu...", contou Mel Nunes, sua filha. O artista estava hospitalizado desde domingo com problemas pulmonares.
Há três dias numa Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no bairro de Jardim Paulista, em Paulista, Maestro Nunes estava em grave estado. Ele aguardava transferência para um hospital público onde poderia receber o devido atendimento mas, devido a falta de leitos, teve que esperar.
Mel disse, na tarde de ontem (13) que um médico havia dado um laudo atestando a gravidade do caso. "Minha irmã foi na Central de Leitos no Ministério Público solicitar a transferência mas não havia vagas", disse ela. Horas depois Nunes havia conseguido a transferência mas mesmo assim não resistiu.
Maestro Nunes nasceu no interior do estado e começou sua carreira aos 9 anos. Depois que mudou-se para Recife em 1950 participou de diversas bandas e do Movimento de Cultura Popular. Formou-se em Belas Artes pela UFPE em 1950 e foi responsável pela criação da Escola Musical do Frevo, em 1972. Sua carreira foi repleta de sucessos: dentre os mais de três mil frevos que compôs, as faixas Frevo de mocotó e Cabelo de fogo. Em 2007 foi homenageado do Carnaval do Recife durante o centenário do frevo e em 2009 recebeu o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco.

Fonte: Diario de Pernambuco, Recife, 14/9/2016

Rivaldo: da mágoa ao auge



RIVALDO: DA MÁGOA AO AUGE

Antônio Falcão

No dia 19 de abril de 1972, Marluce, mulher de Romildo Vítor, humilde jardineiro da prefeitura, deu à luz ao terceiro filho na maternidade da Encruzilhada, no Recife. Eles viviam em Beberibe, outro bairro da zona norte da capital de Pernambuco, e lá, na penúria, criavam Ricardo e Rinaldo, os dois primeiros rebentos. Mas a emoção com o recém-nascido fez o pai dizer “onde comem quatro, comem cinco”. E ir ao cartório de registro civil para dar o nome completo do novo guri ao escrivão: Rivaldo Vítor Borba Ferreira.
Seis anos adiante, quando Marluce e Romildo haviam acrescido à família as meninas Soraya e Cristiane, todos foram morar em Paulista, cidade da região metropolitana do Recife. Nessa época, após as aulas no Colégio Castelo Branco, e em busca de amealhar uns trocados para o sustento da casa, puxando o raquítico Rivaldo pela mão os irmãos mais velhos vendiam doce, bolo e salgadinho pelas ruas de Paulista. E aos domingos iam estrategicamente ao Janga – a praia mais freqüentada – oferecer à venda outros lanches e picolés. Assim, aos 11 anos, quando já estudava nesse mesmo colégio público, Rivaldo também pegou o tabuleiro e saiu de porta em porta vendendo um de-comer qualquer para ajudar a família.
Folgando da escola e do serviço ambulante, ele – à época, Vado de seu Romildo – batia peladas no campinho do Gonzagão, onde era a mais habilidosa das crianças descalças, a conduzir a bola como se tivesse um imã no pé e a se impor como atacante. Para Vado, além do futebol, outros brinquedos eram pegar passarinho e treinar galo de briga – às vezes, também vendidos para reforço da mísera renda doméstica. Só aos 13 anos, ele teve o apoio decisivo do pai para ser craque: um par de chuteiras. E Romildo ao presenteá-lo fez mágica com o seu baixo salário de servidor municipal. Adiante, em 1988, mais incentivo: o pai o levara para as divisões de base do Santa Cruz Futebol Clube, no Recife, onde por conta da subnutrição crônica Rivaldo teve que extrair todos os dentes estragados.
Mas em 89, unindo-se à mágoa de ser extremamente pobre, um novo pesar veio marcá-lo: o pai morreu atropelado por um ônibus. Deprimido, o órfão Rivaldo – já aparecendo no juvenil do tricolor pernambucano – quis desistir do futebol. E a mãe, sabendo do sonho de Romildo em fazê-lo jogador, não permitiu. Aí, aos poucos, o rapaz de 1,87 m de altura se refez psicologicamente e, em 1991, destacou-se no juvenil recifense na Copa São Paulo de juniores. Até Telê Santana, técnico são-paulino, pediu que o comprassem ao Santa Cruz. Só que o modesto Mogi-Mirim Esporte Clube, da primeira divisão paulista, chegou antes e o adquiriu. E em 92, com o pé esquerdo abençoado e íntimo da bola, esse artista do Recife exibiu o seu jogo técnico, fazendo do clube (por analogia ao escrete holandês de 1974 e à condição interiorana do Mogi) “o carrossel caipira”. Nesse time, aliás, em 13 de abril de 1993, percebendo o goleiro do Noroeste adiantado, Rivaldo chutou da divisória do campo para fazer o fantástico tento que Pelé não conseguiu.
Depois, o Mogi o cedeu ao Corinthians e ele, embora tenha se saído bem na equipe com 19 partidas e 11 gols, não era aceito pela torcida. Mesmo assim, em 16 de dezembro de 93, como corintiano Rivaldo estreou na seleção brasileira contra o México, em Guadalajara, sendo dele o único gol do jogo. E ao atacante foi outorgado pela revista Placar o troféu Bola de Prata desse ano. Porém, desde o quarto jogo pelo Brasil, ele já era em definitivo do Palmeiras, clube no qual seria campeão paulista e brasileiro de 1994, quando recebeu outro Bola de Prata. Mas os palmeirenses também o magoavam, tachando-o de prendedor, a confundir estilo cadenciado com individualismo. A resposta dele – após ter feito pelo clube alviverde 86 partidas e 57 gols em quase três anos – veio com o título de campeão estadual em 96. E ainda com o renome na Europa, para onde foi por 10 milhões de dólares pagos pelo galego Deportivo La Coruña , então saudoso do brasileiro Bebeto.
Contudo, em julho de 1996, antes de se apresentar ao time espanhol da Galícia, ele foi para os Estados Unidos incorporar-se à seleção nas Olimpíadas de Atlanta. E haja mágoa, pois ao perder uma bola na intermediária, o escrete da Nigéria empatou o jogo, vencendo a seguir o Brasil na prorrogação. Isso tirara do time canarinho a chance de ganhar a medalha de ouro – título inédito no futebol brasileiro – e Rivaldo passou a ser assim bode expiatório, pecha que o afastara da seleção por mais de um ano. Compensando, ele teve ótimo desempenho no Deportivo ao lado de Djalminha e Mauro Silva, e já nessa temporada seria ídolo na Espanha. Tanto que o Barcelona – do qual o fenômeno Ronaldo acabara de sair – despendeu US$ 29 milhões e o levou para a Catalunha, onde o pernambucano a cada lance iluminaria de talento o estádio Camp Nou.
Sim, no Fútbol Club Barcelona – de julho de 1997 ao primeiro semestre de 2002 – Rivaldo vivera a fase mais radiosa da carreira. Com ele, o Barça venceu a Copa do Rei de 97, tendo no time ainda Luis Henrique, Kluivert e Figo. Ano seguinte – quando em 10 de maio Rivaldo reeditara contra o Atlético de Madrid o mesmo gol da divisória do campo –, a sua equipe foi vitoriosa na Liga espanhola e na Copa da Europa. E bicampeã da Liga em 99. No plano financeiro, o craque alcançou o auge ao firmar contratos milionários – o que a partir de então lhe poria no rol dos atletas realmente ricos do planeta. Isso sem falar dos principais troféus a Rivaldo atribuídos. Como: melhor jogador estrangeiro da Liga (98) – do jornal espanhol Sport; melhor jogador da Europa (99) – da revista France Football; e, finalmente, disputando com o inglês Beckhan e o argentino Batistuta, o mais honroso e democrático – votado por 140 técnicos –, espécie de Prêmio Nobel do futebol: melhor boleiro do mundo, outorgado pela Fifa em 1999. Para tantos títulos e prêmios, o artista Rivaldo fez 130 gols e jogou 235 partidas pelo Barcelona. Mas em 2002, de posse do passe e com insolúveis divergências com o treinador Louis Van Gaal, o craque deu adeus aos espanhóis. É possível que nessa época ele tenha se despedido também de Rose, com quem casara em Mogi-Mirim e que lhe dera um casal de filhos – Rivaldinho e Thamyris.
Concomitante ao rosário de glória e honraria no Barcelona, Rivaldo voltou à seleção nacional em novembro de 1997, quando o episódio ocorrido nas malfadadas Olimpíadas de Atlanta fora esquecido. E na França o craque fez com brilho a Copa do Mundo de 98, da qual o Brasil saiu vice-campeão e o atacante ostentando a unanimidade de que foi o melhor brasileiro. Em 99, venceu para o país a Copa América, sendo ele o maior goleador. E nos dois anos seguintes, além de amistosos, Rivaldo participaria das eliminatórias da Copa do Mundo de 2002, data esta em que – contando com ele como destaque – o Brasil se tornou pentacampeão mundial na Ásia. Assim, ao fazer o último jogo pelo País em 19 de novembro de 2003, o atacante contabilizaria 86 partidas e 38 gols. Desse total de jogos pela seleção brasileira ele saiu vitorioso em 55 ocasiões.
Uma vez longe do Barça, Rivaldo alugou-se à italiana Associazione Calcio Milan. E nessa bela equipe, ao longo de 13 meses de mágoa, faria 38 jogos, marcando apenas 8 pálidos tentos. Inconformado com o banco de reservas, ele de comum acordo com o Milan rescindiu o contrato. A seguir, em dezembro de 2003, Rivaldo voltaria ao Brasil para defender o Cruzeiro, à época treinado por Vanderlei Luxemburgo. Porém, com o desligamento desse técnico do clube e um desempenho do atacante abaixo da crítica, Rivaldo, dizendo-se solidário a Luxemburgo, pôs fim ao compromisso. E em julho de 2004, após muita conversa com várias equipes, ele assinaria com o grego Olympiakos, clube no qual jogava o seu compatriota e amigo Giovanni, também ex-Barcelona. Em Atenas, o pernambucano venceu o campeonato grego de 2004-5 e se candidata a repetir o feito em 2006.
Pelo que Rivaldo sabe de bola, é plausível e saudável crer que esse grande artista do futebol mundial ainda volte a brilhar.

Recife, de maio de 2006

O farol baixo de Ananias


O FAROL BAIXO DE ANANIAS

Orlando Silveira

Ananias está naquela fase da vida em que lembranças e questionamentos são, praticamente, inevitáveis. Num dia, orgulha-se de ter dito muitos “nãos”, de nunca – ao menos até onde sua memória alcança – ter aberto mão daquilo que julgava correto, do ponto de vista ético, para obter vantagens econômicas. Noutro dia, baixa o farol e se questiona se não tinha sido apenas besta. Afinal, passou a vida numa pindaíba daquelas, enquanto vários colegas de trabalho enricaram. Em certos momentos, ele tem orgulho de sua trajetória; em outros, vai ao fundo do poço sem fundo da tristeza, acha que sua história não é digna de um saco de lixo.
O fato é que o dilema tardio de Ananias – deveria ter feito isso ou deveria ter feito aquilo? – começou a torrar a paciência zero do Velho Marinheiro, que, a bem da verdade, é o único que se dispõe a ouvi-lo, pela simples razão de que dele gosta. Por quais motivos? Ninguém sabe bem. Há preferências que são quase inexplicáveis.
Naquela tarde fria e garoenta, Ananias ameaçou retomar a cantilena, mas foi interrompido de pronto pelo Velho Marinheiro, em dia de pouco papo:
– Escuta aqui, Ananias. Essa coisa de ficar toda hora remoendo o passado não leva ninguém a lugar algum. Só torra a paciência dos ouvidos alheios. Não dá para voltar no tempo. Eu já lhe disse: o passado mais machuca que ensina. Ora, você agiu de acordo com sua consciência. Fez bem. Mas não há – todo mundo sabe – almoço de graça. Se lhe serve de consolo, vamos lá: os meios qualificam ou desqualificam os fins. Preciso desenhar? Agora, vamos mudar de assunto. Deolinda está chegando. Espero que o decote de hoje seja generoso, como costuma ser. Vamos tomar uns tragos, comer bolinhos de arroz e assuntar bobagens. Ok?

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

A morte precoce de um craque


A MORTE PRECOCE DE UM CRAQUE

O Brasil sempre foi um berço de craques, a todo tempo nasce um menino com talento indiscutível para o futebol em solo brasileiro. Alguns chegam a se profissionalizar, outros trilham caminhos diferentes do mundo da bola.
Mas nenhum dos dois casos foi o caso de Geraldo, apontado por muitos como a maior revelação do Flamengo nos anos 70. É isso mesmo, nos anos 70 quando Zico e a geração que viria a conquistar tudo na década de 80 apareceu no cenário do futebol.
Há exatos quarenta anos, no dia 26 de Agosto de 1976 o Brasil perdia uma de suas maiores jóias. Aos 22 anos, quando se internou para fazer uma cirurgia de retirada de amígdalas, algo comum na época, Geraldo sofreu um choque anafilático e veio a falecer deixando o futebol brasileiro estarrecido.
Detalhe para a insistência do menino em não realizar a cirurgia, Geraldo demorou mais de um ano para poder aceitar a realização do procedimento cirúrgico. Ele chegou a fugir do hospital em duas oportunidades.
Natural de Barão de Cocais. em Minas Gerais, Geraldo chegou ao Flamengo no início da década de 70 através de seu irmão, o zagueiro Washington, para se juntar a "geração de ouro" rubro-negra ainda nas categorias de base.
Habilidoso e dono de uma drible desconcertante, Geraldo não demorou para encantar a todos no clube. Era conhecido pelo seu excepcional controle de bola, visão de jogo e o futebol alegre, o meia jogava cantarolando e por isso o apelido de "assoviador".
Dono da camisa 8, Geraldo dividia as responsabilidades com Zico. Os dois tinham uma grande amizade ao ponto do pai do Galinho chamar de Geraldo filho, a dupla cresceu junta nas divisões de base do clube rubro-negro e formavam o meio-campo mais promissor da época. Em 1974, o Flamengo entrou no campeonato carioca recheado de jovens, por isso não era apontado como um dos favoritos ao título.
Mas graças ao futebol de Geraldo e companhia o time rubro-negro que era comandado pelo técnico Joubert foi campeão diante do Vasco sob os olhares de 165 mil pessoas no Maracanã.
As grandes exibições no Maracanã lhe renderam uma vaga na Seleção Brasileira. Em um time que tinha Zico, Júnior, Jayme entre outros, Geraldo foi o único jogador do Flamengo convocado para a Copa do América de 1975 e era considerado uma das maiores promessas para a Copa de 78, na Argentina.
O futebol estava no DNA do meia, de nove filhos de Dona Nilza (mãe de Geraldo) cinco se tornaram jogadores, mas Geraldo era o mais talentoso deles. A família seguiu servindo ao futebol e hoje é representada por Bruno Alves, zagueiro do Cagliari e da Seleção Portuguesa. Bruno é filho do ex-zagueiro Washington (irmão de Geraldo).
Depois da tragédia, Geraldo foi homenageado no Maracanã num amistoso entre Flamengo e a Seleção Brasileira, o duelo que ficou marcado pelo encontro de Zico e Pelé em lados opostos. Outros jogadores como Rivellino, Adílio, Paulo Cesar Caju, Carlos Alberto Torres entre outros grandes nomes disputaram a partida. Na ocasião, o Rubro-Negro venceu por 2 a 0 e toda a renda foi doada à família de Geraldo.
Alguns dizem que Geraldo poderia ter mostrado ao mundo tanto ou até mais do que Zico mostrou, mas infelizmente sobre isso ninguém nunca saberá, ele morreu antes que sua genialidade fosse mostrada ao mundo. Fica na memória os bons momentos proporcionados por aquele menino habilidoso, polêmico e irreverente que exibia o seu talento nas tardes de domingo no Maracanã.

Fonte: Yahoo Esportes

Antologia érotica


ANTOLOGIA ERÓTICA

Celso Marconi

A ética depende da moral e por isso é tão preconceituosa
E isso porque o homem só muda vagarosamente
Ele quer que tudo seja como um bem durável
A Folha de São Paulo só muda para o lado do mau
Hoje ela publicou uma reportagem onde a pica é o tema principal
E ela fez isso para divulgar uma antologia sobre poesia erótica
Coitadinha da Folha que tudo pensa fazer para ganhar leitores
Embora cada vez se transforme num jornalão chatíssimo
O campo de liberdade da Folha só está nos quadrinhos
Falar sobre sacanagem mesmo poética é talvez vantagem
E eu estou querendo ler essa antologia e o pintor Zé Cláudio quando souber
Vai comprar um exemplar urgente
Mesmo que todos saibam que o maior poeta sacana do país é Gregório de Matos
E eu tenho há muito tempo a obra dele comprada no sebo de Brandão em Salvador
Também falam em Hilda Hilst na sua fase erótica e muito excelente
Só que com essa estória eu me lembrei de outra estória
Que uma vez um antropólogo se admirou porque eu não sabia o que era pílula azul
Ele não acreditou
O melhor é que é melhor não precisar de pílula para ficar com tezão
Nada mais dimensionado para isso do que uma bucetinha apertada
Como eu já conheci em minha vida.

Bairro Novo, Olinda, 15/7/2015

Dia Nacional do Frevo


DIA NACIONAL DO FREVO

O Dia Nacional do Frevo é comemorado em 14 de setembro.
Esta data é uma homenagem ao principal marco cultural e artístico do estado de Pernambuco: o frevo!
O frevo é um ritmo musical e uma dança tradicional com origem em Pernambuco e que combina elementos da marcha, maxixe e movimentos da capoeira. Em dezembro de 2012, o frevo foi instituído Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
Na capital pernambucana, Recife, o frevo ainda é celebrado em 9 de fevereiro, normalmente durante as festas do Carnaval.
Mas, apesar de ter surgido em Recife, o Dia do Frevo é uma das manifestações culturais mais fortes da cidade de Olinda.
História do Frevo
A dança do frevo se originou no final do século XIX, durante as celebrações do carnaval de Pernambuco.
Com influência de ritmos agitados e frenéticos, como o maxixe, as marchinhas carnavalescas, a capoeira e outros estilos africanos, o frevo ganhou este nome em referência a rapidez no movimento dos pés e corpo, como se o chão estivesse a “ferver”.
A escolha do 14 de setembro para celebrar o Dia do Frevo é uma referência a data de nascimento do criador da palavra “frevo”, o jornalista Oswaldo Oliveira, que nasceu em 14 de setembro 1882.

Fonte: Calendarr

terça-feira, 13 de setembro de 2016

O café nosso de cada dia


O CAFÉ NOSSO DE CADA DIA

Clóvis Campêlo


Uma das coisas que mais me davam satisfação na vida era passar na casa de dona Carmelita, minha avó materna, para tomar com ela o café da tarde.
A hora do moca, como ela chamava, era imperdível. Sempre tinha na mesa um cuscuz quentinho e o insuperável bolo formigueiro.
Já faz tempo que ela se foi e lembro com carinho e saudade daqueles momentos felizes de encontros familiares.
No seu CD de chorinhos nº 3, feito em homenagem a Francisco Soares, o Canhoto da Paraíba, o compositor pernambucano Inaldo Moreira conta que o conheceu em 1959, na casa de Mestre Sérgio, na Rua das Águas Verdes, no tradicional bairro de São José, no Recife.
Lá, todos os sábados, a partir das 19 horas, os chorões da cidade se reuniam, formando uma roda de choro onde o consumo de álcool era proibido. O que movia os chorões era o café, acompanhado de cuscuz e pão com manteiga. Pense numa coisa mais romântica!
Uma das maiores dificuldades que senti na minha vida, quando nos anos 70 me arrisquei pela alimentação macrobiótica, imitando Gilberto Gil e John Lennon, querendo alcançar o nirvana de qualquer jeito, foi deixar de tomar café.
De manhã cedinho, quando dona Tereza, a minha mãe, passava a água fervendo pelo coador repleto daquele pó negro e maravilhoso, incensando a casa com um cheirinho característico, todas as minhas convicções iam por água abaixo. Não resistia.
Originário da Etiópia, o café foi introduzido no Brasil em 1727. Foi plantado inicialmente na região norte do país. Mas, foi em São Paulo e Minas Gerais que o seu cultivo encontrou um solo com condições mais propícias, gerando uma nova fonte de riqueza para o país e para a região sudeste.
Satisfeito, vejo nos meus compêndios homeopáticos que o café nosso de cada dia, da maneira como é entre nós preparado, coado e sem que o pó seja fervido junto com a água, é mais salutar por diminuir o seu teor de cafeína.
Fico feliz e tranqüilo. Hoje, não saberia mais viver sem ele.

Recife, 2010


Com que roupa?


Wolney e Neinha faziam parte do elenco coral

COM QUE ROUPA?

Clóvis Campêlo

Em 1979, diante da perspectiva de uma excursão internacional inédita, o mês de fevereiro começou com uma movimentação intensa no Santa Cruz.
Enquanto em uma das salas do Departamento de Futebol do Mais Querido, um alfaiate tirava as medidas para a confecção das roupas da delegação que viajaria ao exterior, em outra, os jogadores e demais membros da comissão eram vacinados contra o cólera e a febre amarela.
No dia 3 de fevereiro, o clube comemoraria com discrição os seus 65 anos de fundação, contando com a presença de Luiz Gonzaga Uchoa Barbalho, único sócio fundador do clube ainda vivo.

Torneio Internacional

No dia 7, o tricolor faria contra a seleção da Checoslováquia o jogo principal de um torneio internacional que contou ainda com a presença do Clube Náutico Capibaribe e do Botafogo da Paraíba. O jogo serviu, também, para a entrega das faixas aos campeões estaduais de 1978.
Os checos vinham de uma longa excursão por todo o Brasil, alternando bons e maus resultados. Naquela noite, no Estádio do Arruda, encontraram um Santa Cruz inspiradíssimo e levaram uma goleada histórica. O placar de 4x0 mostra bem a superioridade da equipe coral.
Em que pese o domínio tricolor, o primeiro gol só foi marcado aos 40 minutos do primeiro tempo por Neinha, de cabeça, aproveitando um cruzamento de Volnei.
No segundo tempo, logo aos cinco minutos, Volnei recebeu um passe de Betinho e marcou o segundo tento. Aos nove minutos, novamente Volnei recebe de Betinho e chuta sem chances para o goleiro Cervenan. Aos 43 minutos, Neinha consolida o placar marcando o quarto tento, depois de uma jogada que contou com a participação de Volnei e Betinho, os três melhores em campo.
O Santa Cruz venceu com Joel Mendes; Carlos Alberto Barbosa (Vassil), Paranhos (Lula), Alfredo Santos e Pedrinho; Givanildo, Betinho (Zé Roberto) e Carlos Roberto; Jadir (Volnei), Neinha e Joãozinho.
A Checoslováquia formou com Cervenan; Kunzo, Vacilavithck, Macela e Pygell; Rott, Hadimeck e Berger; Lithka, Novak e Klovich.
A renda do jogo foi de Cr$ 731.865,00. Na preliminar, Botafogo/PB 2x1 Náutico.
No dia 9, a equipe coral voltaria a campo para derrotar o Botafogo/PB por 1x0 e garantir a conquista da Taça Marco Antônio Maciel, assim denominada em homenagem ao governador recém nomeado.
O gol da vitória foi marcado por Betinho, aproximadamente aos 30 minutos do primeiro tempo, ao receber um passe de Joãozinho e chutar com a perna direita, antes que a bola tocasse no chão. O Santa Cruz formou com Joel Mendes; Carlos Alberto Barbosa, Paranhos, Alfredo Santos e Pedrinho; Givanildo, Betinho e Carlos Roberto (Deinha); Volnei, Neinha (Gonçalves) e Joãozinho.
O Botafogo/PB atuou com Salvino; Mendes (Edílson), João Carlos, Deca e Marquinhos; Nelson, Zé Eduardo e Nicássio; Noé Silva, Magno e Soares (Vandinho). O jogo foi dirigido por Dirceu Arruda e a renda somou Cr$ 277.065,00. Na preliminar, Náutico 1x1 Checoslováquia.

Rumo ao Ceará

Dois dias após conquistar o torneio, no dia 11, a equipe tricolor empataria com o Ceará Sporting, em Fortaleza.
A rápida excursão se encerraria na cidade de Sobral, contra o Guarani local, com outro empate, desta feita por 2x2.
Os gols do Santa Cruz foram marcados por Givanildo e Joãozinho, enquanto Barbosa, de pênalti, e Chiquinho marcaram para o Guarani.
O Santa Cruz formou com Joel Mendes; Vassil, Paranhos (Alfredo Santos), Lula e Pedrinho; Givanildo, Volnei e Deinha (Carlos Alberto); Gonçalves, Neinha (Carlos Roberto) e Zé Roberto (Joãozinho).
O Guarani, com Dario; Barbosa, Jorge, Frota e Iran; Zé Maria, Tecoteco e Chiquinho; Zé Duarte, Zé Ivan e Pipiu (Nino).
O jogo foi dirigido por Leandro Serpa e a renda foi de Cr$ 95.430,00.

Despedida na Bahia

O Santa Cruz ainda jogaria contra o Itabuna, na Bahia, empatando de 0x0 e mantendo uma invencibilidade de vários jogos.
O clube coral partiria para a sua primeira excursão internacional em 65 anos de existência com 80% das cotas dos jogos pagas.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Som


SOM

Pedro Du Bois

Ao longe o som
da corneta anuncia
a vitória concretizada
do mais forte em hinos
indeterminados: necessidade
não vislumbrada tornada
efêmera no som da corneta.

Tristeza
do desvalido: no nascimento
a inoportuna consequência
na falta de oportunidades.

Penso meu (in)sucesso
desligado na imagem: sons
ecoam a minha raiva.

Zezé Moreira: Fofocas prejudicam Canarinha


ZEZÉ MOREIRA: FOFOCAS PREJUDICAM CANARINHA

Rio (Sport Press, especial para o Diario da Noite) – Zezé Moreira revela que no Uruguai há um ambiente de maior confiança e otimismo em relação ao futebol brasileiro do que entre nós. “Lá não só acreditam que o Brasil superará a fase das eliminatórias, como, em 70, será uma das grandes forças da Copa do Mundo, no Méxixo”.
Uma das virtudes de Zezé Moreira é a franqueza. Por isso evita falar sobre assuntos em que suas palavras possam ter um sentido duvidoso ou interpretações que possam provocar contrariedades. Concordou, todavia,em abordar o assunto seleção, de forma genérica, sem personalizar.

Resultados muito bons

“Sei que os resultados alcançados pela seleção brasileira na sua campanha de 68 não agradaram à maioria, que preferia ver a seleção regressar invicta das partidas que disputou na última excursão e manter-se igualmente invicta nos compromissos cumpridos no Brasil. Para mim, no entanto, os resultados foram muito bons, sobretudo porque o objetivo da excursão não era o de somar pontos em termos de vitória, mas sim o de observar e estudar. A excursão e os jogos no Brasil deram oportunidades excelentes ao técnico e à Cosena para tirar conclusões no campo experimental daquelas programadas”.

Contingências do momento

Logicamente Zezé não aprova a formação de uma seleção dois dias antes de um compromisso internacional. Mas tem fundamentos para aceitar sem condenar algumas decisões da CBD com relação ao selecionado.
“A imprensa e o público não entendem certas coisas, como por exemplo, a de a CBD ter que recorrer ao expediente da seleção de urgência, isto é, convocar os jogadores com uma antecedência de dois dias dos seus compromissos. Nessa história toda, a CBD entra de responsável sozinha, quando na verdade, ela procura harmonizar uma série de interesses, respeitando os dos clubes, que não podem prescindir de suas melhores estrelas, sem que sofram consequências pesadas. O Botafogo, quando da excursão do selecionado, ficou sem quatro ou cinco jogadores, e sem eles, não pode excursionar e ganhar bom dinheiro. Como o Botafogo, outras equipes sofreram os mesmos prejuízos. Para evitar o colapso, a CBD encurta o período de permanência dos jogadores sob o seu domínio, e joga praticamente sem treinamento. Foram medidas que devem ser aceitas como contigências do momento”.

Agora será diferente

“Justificfa-se, portanto, a pressa como foi organizada a seleção para os jogos no Brasil e na excursão. Foram jogos de responsabilidade, porque repercussão internacional, mas, convenhamos, foram muito mais de estudo, ou só de estudo que de competição. Para as eliminatórias, a CBD certamente disporá do tempo necessário para armar como deseja a seleção nacional e, no meu entender, serão necessários, no mínimo, 60 dias de atividade do escrete, para que ele entre nas eliminatórias habilitado a superá-las”.

O grande mal

Na opinião de Zezé Moreira, o mal maior do futebol brasileiro são as brigas, as incompreensões, o disse-me-disse, a vontade de derrubar”.
“Não é só meu pensamento, mas pude verificar que julga o torcedor uruguaio, que respeita muito o futebol brasileiro e acha mesmo que poderá passar das eliminatórias e chegar ao campo da Copa, em 70, como grande concorrente ao título. Mas, antes, precisa eliminar do seu meio as brigas internas. Acompanhei com interesse todos os acontecimentos que envolviam o futebol brasileiro. Tanto pelo rádio como pelos jornais, eu ficava sabendo do seguinte, através de manchetes iguais a estas: Sai Brandão; Fica Aimoré; Entra Zagalo; Brandão fica; Sai Aimoré. Tudo isto só causava mal-estar e me fazia lembrar o exemplo grego, quando Esparta e Atenas brigavam entre si e não se apercebiam da Macedônia que, na briga daquelas duas cidades encontrou o campo propício para a guerra e a vitória sobre ambas. Enquanto fizermos esse jogo, os europeus se deliciarão, poie é o que eles desejam. Enquanto nós ficamos brigando por motivos fúteis, os nossos adversários vão levando vantagem”.

A melhor tática

Passamos a abordar a questão das táticas e Zezé diz:
“A melhor tática é aquela em que o jogador melhor se enquadra. Na minha maneira de atuar foi sempre a mesma e no Uruguai fiz o mesmo. O meu time, o Nacional, terminou em segundo lugar no Campeonato, com uma equipe totalmente remoçada, mas com amplas possibilidades de reconquistar o título em 1969”.
"Para o caso especial do Brasil, o ideal tático seria a fórmula de atacar com todos e defender com todos, mas isso só seria possível após longo período de treinamento, e a seleção brasileira ainda não pode dispor desse tempo".
Zezé é partidário da eliminação do especialista dentro do campo, para efeito de colocar o Brasil atualizado com a evolução do futebol.
"É muito válida a mentalidade dos que assim argumentam, mas para isso são necessárias duas coisas: muito treinamento e interesse dos jogadores em acertar e colaborar".

Não foi convidado

Quando se falou na reformulação da Cosena, o nome de Zezé Moreira andou sendo citadocomo um dos possíveis ocupantes do comando da seleção.
"É o que disse há pouco. Cai Brandão, fica o Aimoré, fica o Brandão e Aimoré, sobe Zagalo, cai Zagalo, Tim é o novo homem. Nessa avalancha, admito que já tenha o meu nome derrubado alguém; e mesmo alguém, derrubado meu nome. Mas sob palavra de honra, não fui convidado para coisa nenhuma".
Quando levantamos a hipótese, perguntamos se aceitaria ou não. Zezé foi taxativo:
"Não sou de decidir sobre hipóteses. Poderia cair no ridículo.Se um dia o assunto for abordado oficialmente, será merecedor de estudo. Por ora, nada posso antecipar. Mas nada mesmo".

Pelé representa meio título

Pedimos a Zezé sua opinião à respeito do rendimento de Pelé na seleção:
"Pelo que vi na partida contra os iugoslavos, Pelé ainda é o grande jogador de sempre. Apenas, como os outros, revelou saturação de bola, sem deixar de ser o craque brilhante com uma atuação de noite de rei. Gostaria de tê-lo na equipe que dirijo, pois o Nacional já entraria no campeonato com meio título na mão. No sistema de "todos defendem e todos atacam", Pelé é figura de frente e que poderá, muito bem, cumprir um papel de destaque, tanto jogando com a bola quanto sem ela. Ele é figura obrigatória em 70".

Mané e o peso da idade

Já em relação a mané Garrincha, Zezé pensa de forma diferente:
"Em que pese a grande força de vontade de Garrincha, na sua luta pela recuperação total, em 70 ele já estará com 35 anos e o Brasil enfrentará seleções que fazem do preparo físico a sua principal arma. O máximo que Garrincha poderá render é a metade do seu antigo máximo, não por vontade dele, mas pelo peso dos anos, o que não será suficiente para romper defesas duras. Acredito muito em Garrincha, porém ele na plenitude de sua forma física e técnica. Como falta muito tempo é possível que muita coisa de bom possa acontecer".

Fonte: Diario da Noite, Recife, 07/01/1969

domingo, 11 de setembro de 2016

A fortaleza-labirinto


A FORTALEZA-LABIRINTO

Nicola S. Costa


À medida que mais gente chegava e era autorizada a ficar em Canudos, Conselheiro ia orientando a construção de casas de pau-a-pique revestidas de barro vermelho. Aparentemente, o amontoado de casas em completo desalinho podia sugerir descuido e desorganização, mas na realidade Conselheiro agia assim por instinto de defesa e resistência contra possíveis ataques. Sabia que, se alguém tentasse atacar Canudos, encontraria um atrincheira natural na região e uma cidade em forma de labirinto.
Canudos chegou a ter uma população entre 25 e 30 mil habitantes e 5.400 casas. Só existia uma rua, a Campo Alegre, que dividia Canudos em duas partes e terminava na praça das igrejas Velha e Nova, esta construída porque a primeira se tornara pequena. Estradas de terra ligavam Canudos aos principais povoados da região, como Massacará e Jeremoabo.
A repórter Lélis Piedade, do Jornal de Notícias da Bahia, teve a seguinte impressão ao ver Canudos: "Era uma verdadeira cidade, em que presidiu relativo bom gosto no estabelecimento. A Igreja Nova era de fato um verdadeiro monumento, talvez maior que a Igreja de São Francisco, de uma construção solidíssima (...) A sua colocação era de verdadeiro efeito: a sua pedra de cantaria artisticamente trabalhada".
Antônio Conselheiro estimulava as festas, os casamentos religiosos, os batizados e as missas, permitindo a presença de padres para realizar esses sacramentos, quando apareciam por lá, o que era raro.
Não existia prostituição nem tavernas em Canudos. A cadeia era conhecida pelo apelido de "poeira", por estar sempre vazia, mas quando alguém cometia um crime Conselheiro expulsava-o ou mandava entregá-lo às autoridades da comarca de Monte Santo.
Canudos tornou-se um oásis no sertão do norte da Bahia e rapidamente cresceu em importância econômica e social. Seguiam para lá e reuniam-se a Conselheiro os sertanejos pobres sem trabalho, os perseguidos pelos poderosos, os criminosos arrependidos, os descontentes com as violências e injustiças, antigos escravos que abandonaram seus senhores após a abolição, artesãos, vaqueiros, pedreiros, ferreiros, pintores, marceneiros, lavradores, etc.
Após o trabalho diário, todos os que quisessem se reuniam diante das igrejas para ouvir as preces de Conselheiro.
À medida que Canudos crescia, foram definidas algumas funções especiais que Conselheiro atribuiu a elementos de sua confiança: João Abade recebia os recém-chegados e era uma espécie de "prefeito"; Antônio Beato era o "repórter" de Canudos; Timóteo era o sineiro; Manuel Quadrado era o curandeiro; Pajeú era o comandante militar encarregado de defender a cidade; Antônio Vila Nova guardava as armas e munições.
Assim, Antônio Conselheiro e os canudenses conseguiram edificar em pleno sertão, em apenas 4 anos, uma comunidade auto-suficiente, produtiva, igualitária, pacífica, organizada e diferente das outras povoações e cidades sertanejas.
Exatamente por sua originalidade é que Canudos atraiu poderosos inimigos, que viam naquela comunidade uma ameaça à ordem estabelecida.

Fonte: CANUDOS - ORDEM E PROGRESSO NO SERTÃO. Nicola S. Costa. São Paulo: Editora Moderna, 1990.


A serpente e a maçã


A SERPENTE E A MAÇÃ

Clóvis Campêlo

Era só monotonia
a vida no paraíso,
tudo correto e preciso,
sem tristeza ou alegria.

Eis que um dia, de repente,
em pleno sol da manhã,
a suculenta maçã
desperta o olhar da serpente.

Por que, então, preservá-la,
negando-se ao prazer?
Mas, para poder prová-la

preciso será romper
a lei e não acatá-la,
desafiando o poder.

Recife, 2010

sábado, 10 de setembro de 2016

Oscar Wilde


"A melhor maneira de fazer as crianças boas, é torná-las felizes".

Oscar Wilde

De arrepiar, os frevos feitos para o Santa Cruz


O bloco Minha Cobra nas ladeiras de Olinda, no Carnaval 2009

DE ARREPIAR, OS FREVOS FEITOS PARA O SANTA CRUZ

Lenivaldo Aragão

Das músicas feitas em louvação ao Santa Cruz ao longo dos anos, no embalo gostoso do frevo, a mais conhecida é, sem dúvida, a marcha-exaltação "O Mais Querido", do genial Lourenço da Fonseca Barbosa, Capiba, pernambucano de Surubim. Capiba tornou-se conhecido como compositor de frevos, em sua grande maioria gravados pelo consagrado Claudionor Germano. Todavia, a exemplo de Claudionor, que no começo de sua carreira era seresteiro, nem só de frevos viveu Capiba na sua brilhante trajetória musical. Dele é a canção Maria Betânia, um verdadeiro hino da música popular brasileira, imortalizada nacionalmente na voz de Nelson Gonçalves. Há outras criações notáveis, como a Valsa Verde ou as músicas em que ele louva o Recife, Olinda e Igarassu, com que o recém-falecido Paulo Molin revelou-se quando ainda era um garoto imberbe.No ano passado foi festejado o centenário de Capiba. Num programa de televisão de que participei, comandado por Tarcísio Regueira, o irreverente Bocão, juntamente com Claudionor, jornalista Aldo Paes Barreto, e médico e teatrólogo Reinaldo Oliveira, cada um discorrendo sobre uma faceta do inesquecível artista. Coube-me enfocar seu lado de desportista. Torcedor ferrenho do Santa Cruz, desde os tempos em que adolescente ainda, vivia com a família em Campina Grande, na Paraíba, Capiba tinha uma bandeira tricolor, que era solenemente colocada à janela de sua residência, na Barão de Itamaracá, no bairro do Espinheiro, quando o Santa jogava. Sua paixão pela Cobrinha era tanta, que em 1948 ele afastou-se do Conselho Deliberativo tricolor por não concordar com a decisão de tirar o time do Campeonato Pernambucano.
Certa vez, deu-me esta declaração, justificando sua atitude naquela ocasião:"O Santa Cruz brigou com a Federação e saiu do campeonato, engolindo a corda do Sport, que havia se solidarizado com ele. Mas, foi só nós sairmos para o Sport voltar e levantar o título, de barbada, pois seu principal adversário estava fora. "A verdade é que tricolores e rubro-negros protestavam contra a então Federação Pernambucana de Desportos (FPD), que no entender de seus dirigentes, estava protegendo o Náutico. Houve um bafafá muito grande, tendo sido necessária até a intervenção do interventor do Estado, Agamenon Magalhães. No final das contas, o Santa Cruz pagou o pato, pois foi suspenso pela CBD (Confederação Brasileira de Desportos) por 60 dias.

DO FUNDO DO BAÚ

O colossal Capiba esperava naquele ano que o então bicampeão pernambucano emplacasse o segundo tricampeonato de sua história, tendo composto sua célebre música, cujo destino terminou sendo o fundo do baú, pelos motivos já explicados. Como se fosse um castigo, o Santa experimentou um jejum de dez anos, só tendo voltado a ser campeão em março de 1958 - o título correspondia ao campeonato de 1957, e o tricolor foi supercampeão, pois cada um dos três grandes ganhou um dos três turnos em que o certame foi dividido, tornando-se necessária uma disputa extra.
A marcha-exaltação de Capiba, pôde, enfim, sair do limbo, tendo bastado para isso trocar o tri do último verso pelo super, o que seria feito posteriormente em outras conquistas notáveis do tricolor, como o bissuper e o trissuper. A letra, que todos apontam como o hino tricolor, o que na realidade não é, foi assim elaborada: "Santa Cruz/Santa Cruz/ Junta mais essa vitória/ Santa Cruz/ Santa Cruz/ Ao teu passado de glória – És o querido do povo/ O terror do Nordeste/ No gramado/ Tuas vitórias de hoje/ Nos lembram vitórias/ Do passado/ Clube querido da multidão/ Tu és o supercampeão".
Em 1990, quando as emissoras de rádio pernambucanas já não davam espaço para o frevo, Capiba dedicou outra música ao seu Santa Cruz, que não teve a mínima repercussão: "Se tu és tricolor/ Que Deus te abençoe/ Se não és tricolor/ Que Deus te perdoe - O Santa tem a fibra/ Dos Guararapes/ Por tradição/ É o mais querido/ E sempre será/ O clube da multidão".
Marambá, um irmão de Capiba, também compositor foi outro a homenagear o Santa, em 1959, com "Cobra Coral", frevo-canção feito em parceria com Geraldo Costa e gravado por Rubens Cristino, no selo Mocambo, da extinta fábrica de discos Rozenblit, em 78 rpm (rotações por minuto), com acompanhamento da Orquestra de Frevo de Nelson Ferreira. Vamos à composição: "Quando aparece num gramado/ O Santa Cruz dando xaxado/ O adversário vai cair/ Disso não pode fugir -Deixa a fumaça subir/ Deixa queimar não faz mal/ Podem mexer com toda cobra/ Menos com a cobra coral".

NELSON NO SUPER

Outro monstro sagrado da música pernambucana a festejar o Santa Cruz, clube do seu coração, embora ele não fosse apaixonado como Capiba, foi Nelson Ferreira, que também fez música para Sport e Náutico. O super campeonato tricolor de 1957 não poderia passar em branco no repertório frevo-futebolístico do consagrado maestro. A inesquecível conquista, coincidindo com a obtenção dos títulos no juvenil e no aspirante, foi festejada por Nelson com um frevo canção interpretado pelo alvirrubro Claudionor Germano, contando com a participação dos locutores Cesar Brasil e Rosa Maria, ambos tricolores. Antes da música propriamente dita, os dois revezam-se, declinando os nomes dos supercampeões – Anibal, Diogo, Sidney, Zequinha, Aldemar, Edinho, Lanzoninho, Faustino, Rudimar, Mituca, Jorginho – e fazem uma conclamação à torcida, na época comandada por Anísio Campelo, uma figura popularíssima: "Em saudação a estes supercampeões de 1957, o comandante Anísio Campelo, desfraldando a bandeira gloriosa das Repúblicas Independentes do Arruda, dá o seu grito de guerra – um, dois, três, quatro, cinco, seis, torcemos com prazer, nosso lema é vencer. Uah,uah, uah, Santa Cruz". Em seguida entra Claudionor: "Vamos cantar com toda emoção/Um, dois, três, quatro, cinco, seis/Saudando a faixa de supercampeão/A que fez jus/O mais querido Santa Cruz – Foram três as vitórias colossais/Juvenis, aspirantes, profissionais/Repúblicas Independentes do Arruda/Pernambuco vos saúda/Anísio, chama a torcida/Tudo pelo Santa, nosso sangue e nossa vida/Um, dois, três, quatro, cinco, seis/Torcemos com prazer, nosso lema é vencer".

LIMPANDO A ÁREA

Em 1942, atendendo a um pedido de Aristófanes de Andrade, um velho baluarte tricolor, um dos responsáveis pela existência, hoje, do grande patrimônio do chamado "clube das multidões", Sebastião Rosendo compôs "Cobrinha no Gramado", que se tornou um segundo hino coral, pelo menos para a torcida e cujo principal intérprete foi Expedito Baracho. A letra é uma verdadeira provocação aos adversários do Santa, que procura afastar todos os inimigos do seu caminho, como os tradicionais e o já extinto Auto Esporte, na letra de Rosendo representado pela lotação: "Eu sou Santa Cruz de corpo e alma/ E serei sempre de coração/ Pois a cobrinha quando entra no gramado/ Eu fico todo arrepiado/ E torço com satisfação - Sai, sai,timbu/ Deixa de prosa, oh seu leão/ Periquito, cuidado com lotação/Que matou pássaro preto/ Santa Cruz é campeão".
Quando o Santa Cruz sagrou-se pentacampeão em 1973, Rosendo reapareceu com o frevo canção "Pentacampeão", tendo como parceiro Gildo Branco, autor de muitas outras composições carnavalescas. Eis a música: "Somos pentacampeões/ Com raça, orgulho e amor/ Santa Cruz é tradição/ É um prazer dizer sou tricolor – Seu pavilhão tremula sempre/Num eterno pedestal/ O seu passado de glórias/ Tornou-se tradicional/ O mais querido Santa Cruz/ Presente às multidões/Vamos cantar e sorrir, família tricolor/ Somos pentacampeões".

PAPANDO TAÇAS

A célebre dupla Irmãos Valença (João e Raul), autora de "O teu cabelo não nega", motivo de uma longa batalha judicial com o compositor Lamartine Babo, acusado de ter se apossado indevidamente da letra - os Valença ganharam a questão - também faz parte da lista dos que, através do quentíssimo ritmo pernambucano, procuraram enaltecer o Santa Cruz. Tricolores, como toda a família, eles aproveitaram uma cançoneta feita por Lacraia - Teófilo Batista de Carvalho - funcionário do Banco do Brasil e primeiro preto a defender o Santa, no nascedouro do time, e criaram o Papa-Taças. A música faz uma menção especial à "poeira", como era conhecida a torcida coral, na época em que o clube, paupérrimo, andava de um lado para outro, sem paradeiro fixo: "Quem é que quando joga/ A poeira se levanta/ É o Santa/ É o Santa/ Escreve pelo chão/ Faz miséria e não se dobra/ É a cobra, é a cobra - É sem favor o maioral/ O tricolor, a cobrinha coral/ O mais querido timão das massas/ Por apelido o papa-taças".

DESABAFO CORAL

Em 1969, quando o Santa Cruz, que tinha sido campeão estadual pela última vez em 1959, quebrou a hegemonia do Náutico, conquistando o primeiro título do pentacampeonato, a dupla Delange Dolores e Fernando Leite Cavalcanti compôs "Arrancou pra valer", enaltecendo o clube e seu mecenas James Thorp: "Falavam que no Santa Cruz/ Tinha uma cabeça de burro enterrada/ Mas James Thorp chegou/ E arrancou a danada - Agora tudo mudou/ Vocês viram que a torcida mudou/ E a alegria reinou/ No coração tricolor".
Em 1972, ano da primeira inauguração do Estádio José do Rego Maciel, a mesma dupla soltou "Três listrinhas": "Eu este ano vou brincar/Com meu amor/ No Carnaval tricolor - Minha camisa vai ser/ De três listrinhas/ Vermelha, preta e branca/ Em homenagem à cobrinha - Perto da sede/ Seu estádio é um cenário/ Palco da Minicopa/ No Sesquicentenário".
Em 1979, o elepê Ecos do Carnaval, de Arlindo Melo, trouxe "Euforia de Tricolor", de Osvaldo C. de Araújo: "Eu salto, pulo e grito/ É claro que estou certo/ Não adianta esta retranca/ O meu time joga aberto – Meu time é arrojado/ Já me disse um torcedor/ Que anda até cansado/ De tanto gritar gol/ Quá, quá, quá – Ora povo, meu time é forte/ Temos craques pra seleção/ Caramba, agüenta as pontas/ Vou pular, vou gritar/ Não leve a mal/ Jogar com o Santa Cruz/ O trunfo é pau".

Publicado no Jornal do Commercio, Recife, em 04/02/2005